Banda estadunidense Suicidal Tendencies se apresenta no Tork N’ Roll em Curitiba após onze anos

A banda estadunidense Suicidal Tendencies se apresentou no Tork N’ Roll em Curitiba no último domingo, dia 14 de julho. Liderado pelo fundador e vocalista Mike Muir, o grupo tocou por quase 90 minutos músicas de toda a sua trajetória e levou ao êxtase diferentes gerações de apreciadores do crossover, do hardcore, do metal e do punk rock.

Após clamor popular, a banda curitibana Mustaphorius foi escolhida para representar a provinciana cidade nesse dia tão especial. A escolha foi a mais coerente possível, não apenas pelo apelo estético do vocalista Jhosefer Deki (filho bastardo de Mike Muir) mas também pela proposta musical e o conteúdo das letras. O quarteto, formado por André na bateria, Cabelo no baixo Dudu na guitarra, subiu ao palco ciente da responsabilidade de iniciar as atividades e também pronto para realizar o sonho de dividir o palco com uma de suas maiores influências. Quem acompanha o underground curitibano e conhece o trabalho árduo dos “musta fuckers” com certeza compartilhou esse sentimento com a banda. Assim como Baysde Kings e Eskorta, as letras do Mustaphorius tratam de assuntos políticos e sobre o (mal) comportamento do homem que vive em sociedade e sua participação tornou o evento ainda mais coeso. Essa foi uma das melhores performances da banda que estava muito bem ensaiada e a qualidade do som do Tork N’ Roll e do técnico de som possibilitaram que todos os presentes ouvissem com nitidez todas as canções. O show começou cedo e não apenas os amigos de longa data mas também aproximadamente 100 pessoas assistiram a performance desse conjunto musical que já escreveu seu nome nos anais do underground curitibano. Sobre a oportunidade, o compositor e vocalista Jhow afirmou que finalmente realizou o show de dividir o palco com sua maior influência que tocou em 2013 mas naquela ocasião ficou apenas no quase. Para ele, foi surreal a ajuda que os amigos deram no Instagram da produtora do evento para pedir que o Mustaphorius tocasse no dia. O baixista Cabelo dedicou o show ao amigo Arnold que faleceu há alguns anos portando uma camisa que foi feita em sua homenagem. Por sua vez, o baterista André disse que foi uma oportunidade ímpar tocar para pessoas que não conheciam a banda e nunca assistiram a uma performance ao vivo. Uma das aficionadas por Mustaphorius, a amiga Anna declarou que esse foi o melhor show de sua vida, pela carga emocional,. por lembrar de amigos e também da influência das bandas do Suicidal Tendencies em sua vida.

Setlist: 01 Distúrbio Mental 02 Ganância 03 Arte Marginal 04 Câncer Humano 05 Políticos Pastores 06 Homem Horrível 07 Fudido E Solitário 08 República Federativa Da Ofensa Brasileira 09 Sangue Suga

A banda Eskrota subiu ao palco logo em seguida com os dois pés na porta com a música Grita que faz uma dura crítica ao machismo e exemplifica situações em que a mulher é reprimida pela sociedade em nome da manutenção de padrões comportamentais. Playbosta é mais um tapa na cara dos homens que nascem privilegiados e escolhem o fascismo porque essa é a escolha mais conveniente e preguiçosa. Para a guitarrista e vocalista participar de um evento como o do domingo também foi a realização de um sonho. As críticas comportamentais continuam em Cena Tóxica agora em nível mais estrito como a cena independente musical. Episiotomia é mais uma música com conteúdo crítico e que reafirma a posição feminista da Eskrota e a coloca na mesma prateleira que bandas extremamente necessárias em tempos atuais como Anti-Corpos, Dominatrix e outras. As próximas músicas abordaram temas de filmes de terror, como Não Entrem Em Pânico, que contou com a presença do personagem Pânico (do filme homônimo) que animou ainda mais todos os presentes.

Setlist: 01 Grita 02 Playbosta 03 Cena Tóxica 04 Episiotomia 05 Não Entre Em Pânico 06 Exorcist In The Pit 07 Homem É Assim Mesmo 08 Mosh Feminista 09 Eticamente Questionável 10 Instagramável 11 Carrie 12 Mulheres

A segunda metade dessa noite inesquecível começou assim que o quarteto santista Bayside Kings subiu ao palco. Formado pelo baterista David, pelo baixista Manolo, pelo guitarrista Teteu e pelo vocalista Milton, a banda já lançou três álbuns de estúdio (The Way Back Home de 2012, Waves Of Hope e o mais recente Resistance) e para essa data especial escolheu um setlist que abrangeu todo o seu catálogo. Assim como destacado nos shows anteriores, faz-se necessário comentar que o grupo trata em suas canções de questões ideológicas e políticas. Os rápidos discursos do vocalista Milton entre uma música e outra são claros e diretos: Bayside Kings não compactua com fascismo, homofobia, racismo e qualquer outro tipo de preconceito. Após um trecho da música Marcha Imperial da franquia Star Wars, os caiçaras interpretaram A Consequência e com My Freedom mostraram mais uma vez porque são um dos maiores representantes do new york hardcore no país. Logo depois o vocalista deixou mais uma vez bem clara a posição política da banda ao afirmar que o hardcore punk é lugar para negros, para LGBTQIAP+ e para mulheres. Durante a interpretação de Ronin, o vocalista foi cantar na grade com membros do público que sabiam as letras das músicas. Os que não sabiam dançavam no circle pit ou surfavam nas mãos da plateia. Esse momento de interação entre banda e público é uma prova do tamanho do Bayside Kings tem em território de nacional. Como de costume, as boias e bolas de praia estavam presentes e eram arremessadas de um lado para outro da pista de dança. Milton agradeceu a produção do evento pela oportunidade de realizar o sonho de abrir o show de uma de suas bandas favoritas e também por tocar em uma cidade com bandas tão boas como Colligere, Family, Crowning Animals, Delive, Mustaphorius, Your Fall, entre outras. O show foi interrompido por um problema na bateria mas um membro da equipe do Tork N’ Roll rapidamente deu todo o suporte necessário para a retomada do espetáculo. A última música, Existência, talvez seja a melhor música do grupo pela reflexão que causa no ouvinte: uma leitura sobre si mesmo, seu caráter, essência, identidade e personalidade que devem ser mantidos independente dos perrengues. Esse foi mais um show do Bayside Kings de Santos para o mundo, uma banda muito bem ensaiada, sólida que passa uma mensagem positiva que é sempre muito bem vinda mas com uma proposta musical pesada, rápida que transmite muita energia aos presentes.

Setlist: 01 A Consequência Da Verdade 02 My Freedom 03 The Underdog 04 Get Up And Try Again 05 Power Of Change 06 Ronin 07 Pare(ser) 08 (Des)obedecer 09 Miragem 10 O Que Você Procura Aqui? 11 Todos Os Olhos Em Mim 12 Entre A Guerra E A Paz 13 Resistance 14 Miles And Miles Away 15 Existência

A formação que se apresentou em Curitiba é muito conhecida pelos fãs: o compositor, fundador e vocalista Mike Muir (único membro remanescente), os guitarristas Ben Weinman e Dean Pleasants, o baterista Jay Weinberg (ex-Slipknot) e Tye Trujilo (o filho mais novo de Robert Trujillo do Metallica, ex Suicidal Tendencies) no baixo.

Setlist:

By Thiago Malinowski